Mais de um ano depois do aparecimento do vírus SARS-Cov-2, suas sequelas ainda continuam sendo estudadas pelos cientistas, para que se entenda da melhor forma suas relações com os tipos específicos de pacientes. Além do vírus protótipo “original”, desenvolveram-se também ao longo desse tempo as chamadas variantes, que por sua vez podem estar relacionadas à diferentes sequelas da COVID-19, mais ou menos graves em relação às inicialmente conhecidas.

A doença desencadeada pelo novo coronavírus pode deixar sequelas leves ou graves, de curto ou longo prazo, transitórias ou permanentes, enfim, há uma grande variação em seu espectro. A falta de ar e o cansaço, entre outros fatores, são umas das principais queixas por parte dos infectados.

 

Pacientes com sequelas da COVID-19

paciente com sequelas da covid-19


Na região parisiense, o hospital Foch sentiu-se responsável em criar um setor que fosse especializado justamente no atendimento dos pacientes que ainda têm de conviver com as sequelas da doença desenvolvida pela COVID-19. O chefe da unidade relatou que o aparecimento dos primeiros casos começou logo depois do fim do primeiro lockdown no mês de maio.

O Dr Nicolas Barizien, revelou: “O impacto causado pelo vírus na vida desses pacientes é real, pois sua qualidade de vida diminui. Simples movimentos podem fazer com que esses pacientes sintam falta de ar“. As mulheres com faixa etária entre 25 e 60 anos (grupo com vida ativa), têm sido um grupo especialmente afetado pelas sequelas. Muitas vezes, os pacientes afetados nem mesmo estão acima do peso ou  pertencem a algum outro grupo de risco.

Um grande incômodo que reside na comunidade científica é não poder propor uma solução definitiva, em determinados casos, para os pacientes, restando como alternativa, tentar, de alguma forma, aliviar os sintomas dos mesmos.

 

Sintomas das sequelas da COVID-19


Foi necessário um tempo até que se pudesse iniciar os estudos em centros que foram feitos especialmente para consultas da síndrome pós-COVID.

Apesar do perfil ser bastante similar entre esses pacientes, notam-se relatos bastante distintos de alguma mudança que ocorreu em suas vidas após a doença. Por exemplo, o caso de Véronique Le Thiec, em que a mulher ficou doente em março, época que relatou ter perdido o paladar e o olfato. Depois de 9 meses, já tendo passado a fase mais crítica da doença, ela ainda não sente gosto, nem cheiro. Ela diz que o sintoma apareceu de repente e que pensou que logo voltaria ao normal. No entanto, não foi isso o que aconteceu. Em outubro, Véronique foi contaminada novamente e esses sintomas se intensificaram. Outros pacientes relataram sentir também insônia, cansaço e problemas digestivos.

Segundo Nicholas Barizien, médico do hospital Folch, há diferentes centros nacionais tratando das síndromes pós-covid e listando todos os sintomas que atrapalham a vida dos pacientes (tosse, falta de ar, “pressão no peito”, refluxo, diarreia, dores na cabeça, etc). Falaremos de forma um pouco mais específica desses sintomas refratários / sequelas abaixo.

 

Tipos de sequelas da COVID-19

médica falando sobre sequelas da covid-19


As sequelas mais conhecidas são aquelas que provocam danos respiratórios. No entanto, existem uma série de sequelas que podem ser resultantes da doença. Exemplos:

  • Sequelas neurológicas
  • Sequelas pulmonares
  • Sequelas cardíacas
  • Sequelas renais
  • Sequelas vasculares
  • Sequelas gastrointestinais

 

Sequelas neurológicas e danos cerebrais

Uma das sequelas que se tem visto é em relação aos danos cerebrais, causados pelas complicações do vírus no organismo.

Um estudo feito em abril de 2020, que reuniu pesquisas da UFRJ, instituto D’OR e da Queen’s University, revelou que a COVID-19 pode afetar o sistema nervoso central. Sendo assim, a longo prazo, o funcionamento do cérebro pode acabar sendo prejudicado.

O estudo foi publicado na revista Trends in Neurosciences do grupo Cell com objetivo de fazer um alerta para a comunidade científica sobre a importância de realizar um acompanhamento dos pacientes infectados com o vírus, mesmo que eles já tenham se recuperado de todos os sintomas respiratórios. E, na França também conseguiu-se identificar alguns sintomas pós-covid nos pacientes, tais como desorientação, confusão mental, perda de memória e agitação.

Exames de imagem também evidenciaram algumas alterações neurológicas que podem estar relacionadas ao vírus, como por exemplo a encefalite, uma inflamação cerebral.

No longo prazo, o acometimento neurológico ou sequelas do mesmo podem favorecer, por exemplo, o aparecimento de Alzheimer, Parkinson e outros distúrbios neurodegenerativos. Por isso, se faz tão necessário o acompanhamento dos pacientes que já contraíram a doença.

Vale ressaltar aqui que um dos sintomas mais comuns, que é a perda de olfato, pode ser um indício de que o vírus atingiu o sistema nervoso central (neurológic0). É importante ficar atento aos sinais não usuais da COVID-19, aqueles além das manifestações respiratórias.

Já é conhecido que, durante a infecção pela COVID-19, o paciente tem uma resposta inflamatória que vai aumentando de acordo com a severidade da doença. No mesmo contexto, o paciente pode acabar seguindo um caminho de aumento da tendência à coagulação sanguínea. Por conseguinte, o cérebro passa a ter então uma maior chance de suas veias serem obstruídas por coágulos, o que também causa danos no tecido cerebral.

 

Sequelas pulmonares

O pulmão é um dos alvos favoritos do vírus e, por isso, tende a ter uma demora maior para se recuperar.

As alterações pulmonares após a inflamação gerada pelo vírus podem persistir por semanas a meses. Desse modo, o pulmão pode ter sua função comprometida. Quando as “marcas” deixadas pela COVID-19 são irreversíveis, pode ser que tenha se instalado a fibrose pulmonar. A consequência disso é uma redução da capacidade pulmonar permanente.

Há diversos graus em que isso pode acontecer, desde sintomas leves sem manifestação nos exames de imagem, até sintomas mais graves com alterações nos exames de imagem. Pacientes que necessitam de internação hospitalar durante a doença e tem pneumonia (infecção dos pulmões), quanto mais grave esta é, maior a chance do desenvolvimento de sequelas pulmonares.

 

Sequelas cardíacas e renais

No coração um dos problemas médicos relatados na COVID-19 é a miocardite.

A miocardite consiste na inflamação do tecido muscular do coração. Portanto, seus efeitos acabam comprometendo a função da musculatura cardíaca e, por conseguinte, o bombeamento de sangue para o corpo. Assim, sequela como fibrose da musculatura cardíaca pode ocorrer.

O desafio principal é fazer a identificação dessa condição (miocardite). Isso porque tal manifestação é silenciosa, com sintomas não específicos. No primeiro sinal mais direto que o paciente apresentar, pode ser que a miocardite já esteja em um grau mais avançado, debilitando bastante a condição do paciente.

Ainda é cedo para falar sobre o assunto, mas já existem relatos de pessoas que apresentaram insuficiência cardíaca depois que tiveram miocardite. O risco é ainda maior quando há alguma condição pré-existente no coração.

E quanto aos rins. Estima-se que 40% dos pacientes que passam pela UTI durante a internação sofrem algum tipo de insuficiência renal. Eventualmente, podem precisar de hemodiálise. A recuperação completa pode demorar meses. Sequelas com perda da função renal podem impactar a vida do paciente para sempre. Fibrose do parênquima renal e hidronefrose (dilatação dos cálices renais) são condições sequelares que podem ocorrer.

 

Sequelas vasculares

Uma complicação importante que tem sido observada em casos de pacientes mais graves com COVID-19 é a ocorrência de AVC’s (acidente vascular cerebral; isquemia cerebral).

A presença do vírus deixa o sangue com uma maior tendência à coagulação. Desse modo, um fator sanguíneo utilizado para auxiliar no diagnóstico de tromboses, o dímero-D, acabou virando uma importante ferramenta no manejo do paciente com COVID-19. Quando esse marcador se encontra alto, é possível que o paciente esteja desenvolvendo ou já tenha desenvolvido uma trombose, tornando o quadro mais grave.

Em um estado trombogênico, o paciente tem uma maior chance de obstrução dos vasos sanguíneos nos diversos órgãos do corpo, incluindo o cérebro, onde pode gerar o AVC. A depender do vaso sanguíneo e área cerebral que foi acometida, o paciente pode desenvolver uma sequela específica relacionada com a área acometida.

Outras consequências seriam embolia pulmonar, renal e necrose das extremidades.

 

Sequelas gastrointestinais

Uma das condições que se pode observar nos pacientes diagnosticados com COVID-19 é o aparecimento de alguns sintomas gastrointestinais.

A falta de apetite, dor abdominal, náuseas, vômitos e diarreia são sintomas que são conhecidos na fase aguda da doença, mas que podem se prolongar dependendo do grau de agressão do vírus no trato gastrointestinal ou em alguns órgãos sólidos relacionados com a digestão (como fígado e pâncreas).

A depender da agressão, pode ser que ocorra lesão permanente destes órgãos, com perda da função dos mesmos, e consequente alteração do hábito intestinal habitual do paciente.

Um dos alertas a serem feitos aqui é que usar medicamentos pode acabar tratando alguns sintomas como também provocar o aparecimento de outros, já que as medicações podem causar uma agressão aos órgãos do trato digestivo.

Para saber se esses sintomas gastrointestinais são sinais da COVID-19, deve-se ficar atento ao estado geral da saúde do paciente. Uma análise prévia indicando se esses fatores já existiam ou se houve algo que desencadeou acaba se fazendo necessária.

 

Sobre os tratamentos para as sequelas de Covid-19

exercicios pos covid-19


Algumas sequelas causadas pela COVID-19 podem causar sintomas e serem irreversíveis. Entretanto, algumas delas podem ser assintomáticas ou mesmo causar alguns sintomas que podem ser atenuados com determinados tratamentos. Tratamentos estes que podem ser medicamentosos e não medicamentosos, como por exemplo relacionados aos hábitos de vida, fisioterapia, e etc. O tratamento vai depender do órgão acometido e do grau de limitação do paciente. Deve sempre ser realizado sob orientação médica.

Até os dias atuais, muitas pesquisas vêm sendo realizadas para que uma resposta mais clara sobre essas condições surja. Enquanto isso, a recomendação geral que se faz é que as pessoas se mantenham ativas, se possível que realizem alguns exercícios físicos, tudo sob orientação médica. Isso fará com que o condicionamento físico e mental de cada indivíduo acabe sendo melhorado, depois dele ter contraído a doença.

 

Conclusão


Vimos nesse artigo algumas das principais sequelas da COVID-19 no corpo humano.

Esse conteúdo tem o intuito de informar um pouco mais sobre a doença e como ela tem agido de maneira diferente em cada tipo de paciente.

O trabalho para conclusão de estudos e diagnósticos precisos ainda é grande, no entanto, aos poucos vem sendo notado cada vez mais conteúdos que agregam esse tema.